Quero ver essa dona caminhando pelos salões arrastando o vestido rendado

Ê Brasil, lamento tanto por ti. "Vou cantar-te nos meus versos..".
Pelos índios e suas doenças brancas, abandono da Funai; o medo do cidadão comum, o despreparo e o salário da polícia, a ousadia dos traficantes, a fragilidade do Estado, a corrupção dos bandidos. "Brasil, terra boa e gostosa, da morena de olhar indiferente.." Tráfico de mulheres, horror da pedofilia, das crianças jogadas pelas janelas, dormindo embaixo do metrô, que se vendem à beira das estradas para caminhoneiros abruptos e solitários.
"Abre a cortina do passado".... São homens de fala macia e com seus ternos Armani, políticos que vêem medidas provisórias, cidadãos que são apenas números. "Esse Brasil lindo e trigueiro é o meu Brasil brasileiro..."
Desmatado, confundido, especulado, usado, invadido, esquecido. Terra de samba e pandeiro.... Brasil, Brasil...
E grande, imenso, climas diversos, florestas, mares, cachoeiras, atravessando séculos, desafiando os erros, aplaudindo sem dentes os acertos.... Brasil...Meninas nordestinas que sonham com homens que a amem, mães que sonham com o bolsa-escola, homens que jogam cartas, tomam pinga e trabalham na lavoura... Biodiesel... "Terra de samba e pandeiro".
"Canta de novo o trovador"... perdão, Brasil, pelos tributos e pelo preço do arroz , pelo festival da imprensa oportunista, pelo peculato dos homens, pelos frágeis olhos de nossos jovens viciados, confusos que rezam antes de enfrentar a polícia.
Vejo o Brasil como uma negra altiva, caminhando pelos salões arrastando o seu vestido rendado. Feliz.

Karla Marília